segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Rodamoinhos


Os ventos que saem de mim
vão a lugares que desconheço.

Os ventos que fogem de mim
sempre acham um novo endereço.

Os ventos que passam por mim
lembram coisas que eu esqueço.

Os ventos que voltam a mim
são os que, de fato, mereço.


David Henrique

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Confissões de Alícia


Tentei por vezes ser amada
da mesma forma que amei,
mas no fim, era desprezada
junto com tudo que guardei.

Inventava vários amores
e me entregava por completa,
pra depois alimentar dores
que devoram minha alma deserta.

Hoje, já não consigo mais
carregar esse sentimento,
minhas tentativas são banais,

meu coração é um tormento
quebrado em partes iguais:
ilusão, prazer e lamento.

David Henrique

terça-feira, 9 de setembro de 2014


Muito cedo levanto
para acordar o dia,
das aves ouço o canto
dos ventos um bom dia.

É nas calmas manhãs
que encontro meu sossego,
plantar e criar bichos
sempre foi o meu emprego.

Não me vejo em cidades,
grandes bares ou praças,
aqui tenho utilidade,
lá mal sirvo de graça.

Em caminhos de terra,
arames, pedras, telhas,
meus passos trilham guerras
que são bem mais verdadeiras.

A este lugar pertenço
feito uma planta no chão,
um pico alto no vão
livre das contas do tempo.

Sigo minha tradição
e por aqui permaneço,
as noites vêm e vão,
mas eu não envelheço.

David Henrique


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Suvenir



Não me aguardes neste lugar
por onde não irei passar

fuja, em quanto há tempo
e se livre desse tormento

já não há em mim vontade
de voltar a esta cidade

o sangue já lava calçadas
a carne ao sol é queimada

as faces são modeláveis
as fases são descartáveis

o piso é movediço
o encontro é um sumiço

as plantas são venenosas
as flores são perigosas

as cores perderam a tinta
e tudo se enxerga em cinza

o afago do vento corta
galhos de árvores mortas.

David Henrique